sábado, 29 de setembro de 2012

Ponto de ônibus

Um passo, dois passos, três passos e a contagem se perde nos pensamentos dele ao lembrar o rosto dela. "E a propósito, onde estava ela?"  O sinal de saída havia tocado há um tempo e pelas contas dos dias anteriores dez minutos já eram o suficiente para ela ter chegado. Ele então diminuiu o ritmo dos passos e antes mesmo de sua mente se concentrar em algo uma voz ofegante, porém doce, gritou seu nome. Ele virou como se tivesse a maior certeza do mundo que aquilo iria acontecer. E então os sorrisos se entrelaçaram... Uma conversa que durou uns três a quatro minutos no máximo para quem via de fora, e que para eles o inicio, meio e fim se embaralham sem previsão de acerto. As palavras que saíram da boca deles ficará na imaginação dos observadores e curiosos de plantão, mas estes sabiam que ali, naquela cena, existia uma das belezas do nosso cotidiano, a troca de sentimentos humano.

Um ônibus impediu minha visão sobre aqueles dois e voltei a escutar o cantarolar de Chico Buarque no meu fone, que falava de amor da melhor forma Chico de ser. O ônibus tomou partida e quando procurei a continuação daquela cena do outro lado da rua, só encontrei os cabelos loiros dele balançando contra o vento enquanto ele se dirigia para casa sozinho. Sorria tão lindamente para si mesmo que transmitia sua alegria para o exterior, ao ponto de me fazer sorrir sozinha também. Naquele momento ele se sentia, como de costume, o cara mais foda do planeta. Mas porque não se sentir? Ele é um cara cheio de disposição, autêntico, tem cada sacada sobre a vida em geral de dá inveja a muita gente e pra completar tinha aquela garota. Que talvez não seja fantástica e nem notado por outros, mas que para ele era o que precisava. Da unha do pé ao fio de cabelo. Aquele cara poderia sim se sentir o cara mais foda do planeta. E eu? daria um fígado para saber o que  ele estava pensando, naquele momento. Saber o que fazia ele sorrir tanto. Daí eu resolvi deixá-lo em paz e desviei meu olhar. Já havia explorado demais sua vida sem permissão.

Chico voltou a cantarolar...


eu, 18 anos.

domingo, 9 de setembro de 2012

 
 


Te encontro pelo mundo

  Ontem encontrei com um passarinho cheio de charme. Sua especie é dessas bem raras que de vez em nunca a gente encontra entre os fios dos postes e se surpreende pela beleza de sua penugem diferenciada, dentre tantos pardais. Eu, papagaia que sou, falei, falei, cantarolei, falei, falei, falei e falei, mas nenhuma das minhas barulheiras foi o bastante para não ouvir o cantar leve e calmo desse passarinho.

  Conversa vai conversa vem, abraços vai, abraços vem, beijos vai, beijos vem, decidimos voar. Pois apesar de eu ser uma papagaia domesticada nunca cortaram minhas asas. Costumo da voos pela redondeza todos os dias desde outubro de 1993, porém nunca tinha encontrado nenhum passarinho charmoso como esse, que parece tanto com os da minha família, para voar comigo também.

Ele me falou coisas da vida dele e de seus desejos futuros também, e eu só a observar. Fiquei com uma vontade imensa de pôr ele no bolso e colocar na gaiola lá de casa. Mas seria muita crueldade de minha parte prender a liberdade em pessoa. Não seria capaz de um ato desse. Até porque o que fazia ele me ter era saber que ele era do mundo, da vida.

Sei que quando tudo ta indo bem demais, devemos desconfiar. Cheguei a brincar com ele sobre isso, contudo no fundo eu prefiro não desconfiar, só guardar. Guarda pro resto da vida na memória curta e no coração bobo dessa papagaia tagarela. Não sei se vou o ver mais, pois nem telefones trocamos. Mas eu prefiro que fique assim, fluindo. Sem a tecnologia para acelerar nada. E quem sabem um dia eu siga o sol da cidade pedalando para procurá-lo e ele me chame para o mundo.


eu, 18 anos.
 
 
 

 
 
"Sei que a tua boca já beijou a outra que não a minha.
Sei que já amou a outros quando não me conhecia.
Mesmo assim, teu carinho me tomou o peito,
e hoje sem você não mais consigo ser do mesmo jeito."
 
Los hermanos