sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Essa não sou eu

Estou cansada desses puxões em minhas cordas.
Cansada dessa pintura ridícula de felicidade que vocês põe em meu rosto.
Não sou essa piadista que vocês dizem que sou.
Essa não é minha história!

Contem pra eles o que fazem comigo quando as cadeiras ficam vazias....

Vocês me jogam no baú na companhia dos cupins que me corrói reclamando
da minha péssima qualidade de madeira.
Taparia meus ouvidos para não escutá-los se meu cerébro não fosse tão ranzinzo
quanto um velho aposentado, ex militar, com prolemas de visão, surdez e de coluna
que não para de gritar sozinho com seu monte de almofada jurando que é seu cachorro que fugiu a três anos.


Aqui está apertado e nem me sustentar em pé pra sair andando eu posso,
devido a essas pernas que só sabem sambar junto com esses quadris oco.
Essa história não é minha!

Sou muito pra tão pouco.
Eu não quero ter uma plateia que rir da boneca, ou da prisioneira, ou ate mesmo
da dançarina de can can que vocês me fantasiaram hoje.
Quero uma plateia que se impressione com tanta genialidade diante do seus
narizes, que por sinal vocês não precisavam ter posto em meu rosto.
Fazem ideia de quanta poeira tem dentro desse baú?
No dia que vocês me fantasiarem de patroa, vou ter uma conversa
seria com os faxineiros desse teatro.

Dente todos os defeitos e mentiras que vocês colocaram em mim ao retirar tudo que eu era,
vocês preservaram algo importante: a esperança.
Posso estar enganada em achar que um dia irei ser quem sou, mas todos os dias
assim que minha cena nesse palco acaba, é ela que me convida
para um jantar a velas e acende a única luz desse estúpido baú.

Queria eu poder enxergar a saída...

eu, 18 anos.